CP vende comboios a operadora privada do Peru
Carlos Cipriano
Automotoras que circularam nas linhas do Tua e do Vouga vão agora ser
comboios turísticos em Machu Picchu
A CP vendeu três automotoras de via estreita da série 9400 à Crosland
Tecnica, uma operadora ferroviária privada do Peru, que as irá utilizar no
transporte de turistas na linha de acesso a Machu Picchu.
O montante do negócio é de 760 mil euros, dado que as três unidades se
encontravam já retiradas de circulação, mas a EMEF (empresa participada da
CP dedicada à manutenção) vai concorrer à sua modernização, que será
realizada já naquele país da América Latina.
Para além das alterações no interior das carruagens e nos postos de
condução, as três automotoras terão de alterar os seus boggies (rodados) de
forma a adaptá-las para distância entre carris do Peru que é de 914
milímetros, ao passo que a bitola portuguesa de via estreita é de um metro.
As automotoras agora vendidas já tinham sido compradas pela CP em segunda
mão, na década de 70, à então Jugoslávia, onde faziam serviço nos arredores
de Zagreb. Em Portugal foram afectadas à linha do Tua onde andaram até aos
anos noventa. Nessa altura foram alvo de uma profunda modernização nas
oficinas da EMEF em Guifões (Porto) e enviadas para a linha do Vouga onde
acabaram os seus dias há cerca de cinco anos. Ressuscitam agora para
transportar turistas num dos caminhos-de-ferro mais altos do mundo (a antiga
cidade dos incas está situada a 2350 metros acima do nível do mar).
A internacionalização da CP através da venda de material retirado de
circulação já tem alguns anos. Locomotivas que circularam na linha do Tua
funcionam ainda hoje no Togo e em 2002 cinco automotoras que fizeram parte
da paisagem ferroviária urbana do Porto foram vendidas aos Camarões por 4,7
milhões de euros e são hoje o material topo de gama dos caminhos-de-ferro
daquele país, fazendo os Intercidades entre Douala e Yaoundé (as duas
principais cidades).
Contudo, não tem sido em África, mas sim na América Latina que a CP tem
feito os negócios mais interessantes. Ainda na semana passada embarcou no
porto de Setúbal um segundo lote de material ferroviário para a Argentina
que faz parte de uma encomenda de 27 milhões de euros feito por aquele país.
À CP os argentinos compraram praticamente todo o tipo de material, desde as
UTE (Unidades Tiplas Eléctricas) que já circularam nas linhas de Sintra,
Azambuja e do Norte, até às locomotivas 1400 e Brissoneau, e às velhas
automotoras Noahb (de fabrico sueco e que já se arrastavam, com muitos
protestos dos passageiros, nas linhas alentejanas), até às típicas
carruagens metalizadas fabricadas na então Sorefame.
Em Maio decorrerá um terceiro embarque para a Argentina estando previsto o
último para Novembro deste ano.
No outro lado do Atlântico circulam já 40 carruagens e sete locomotivas
enviadas para Buenos Aires no início de 2006. Aquele país estava carente de
material ferroviário depois de, nos anos noventa, praticamente ter acabado
com o caminho-de-ferro na sequência de um programa de privatizações que se
revelou um fracasso. A intervenção do Estado, que voltou a assumir
responsabilidades no transporte ferroviário, obrigou à compra de material
moderno a Portugal e a Espanha (países que têm o mesmo tipo de bitola que o
da ferrovia argentina).
Em África, apesar da proximidade linguística, a CP não teve êxito na venda
de material para Angola, onde são os chineses que estão a recuperar as
linhas férreas daquele país. Em 1996, o então presidente da CP, Crisóstomo
Teixeira, criou uma empresa vocacionada para intervir no mercado africano,
mas não teve sucesso. Já em relação a Moçambique as expectativas são mais
optimistas, havendo neste momento negociações para a venda de automotoras
para aquele país.
A operadora ferroviária pública tem vendido material, mas não tem comprado
comboios novos. As excepções são as 15 locomotivas vocacionadas para o
transporte de mercadorias recentemente encomendadas à Siemens. Nos últimos
anos a estratégia da CP assentou na modernização de material quase obsoleto,
mas este modelo esgotou-se e não constituiu um êxito. Os exemplos mais
flagrantes são as "novas" composições da linha de Cascais, que avariam
frequentemente, levando à supressão de comboios. Os pendulares, que vão a
caminho de uma década, continuam a ser a coqueluche da CP e os Intercidades
são formados muitas vezes por carruagens com 30 anos, mas que foram alvo de
uma remodelação que as tornou aptas a circular a 190 km/hora. O último plano
estratégico da empresa não contemplava a aquisição de novos comboios de
passageiros, mas este plano está a ser redefinido.
Fonte
A quien interessar (si ai alguien de Peru por aqui en trensim que se acuse) ... estos modelos estan disponibles en mi site.